Você conhece Ted Lasso?
Ted é um treinador norte-americano que ganhou destaque ao comandar o AFC Richmond da Inglaterra. O que surpreende é que o treinador não tem experiência no futebol, mas sim no “Football”, ou o Futebol Americano, coo o chamamos. Trata-se, claro, de uma série de televisão, e Ted, vivido por Jason Sudeikis, é o personagem principal desta obra que tem divertido e impressionado a muitos amantes do esporte mais popular do planeta.
ALERTA: PODEM HAVER PEQUENOS SPOILERS
A PRODUÇÃO
Jason Sudeikis é bastante conhecido por atuar no Saturday Night Live em filmes pequenos de comédia. A ideia de Ted Lasso surgiu após o ator deixar o programa semanal e aparecer em um comercial na Tv Americana. O comercial, uma curta-metragem, da NBC consistia em apresentar o Campeonato Inglês ao público dos Estados Unidos, oito anos atrás.
Foi então que, anos depois, Jason, incentivado por sua esposa Olivia Wilde, convenceu o produtor Bill Lawrence a investir em uma série sobre o personagem. A história da criação do show pode ser lida aqui .
O ENRENDO
Após fazer sucesso como técnico no Futebol Americano, Lasso aceita uma inusitada proposta de trabalhar no “Soccer”, o nosso Futebol, na Inglaterra. A proposta foi feita pela recente dona do fictício AFC Richmond, Rebecca Welton (interpretada por Hannah Waddingham), que brigava por se manter na elite da divisão.
Rebecca ficara com o comando do clube após uma conturbada e litigiosa separação. Ao contratar o técnico dos Estados Unidos, contava que o clube sucumbisse, pois este era uma das coisas que seu ex-marido mais amava. Assim, ao contratar um técnico oriundo de outro esporte, que vivia em um país de costumes diferentes, era a oportunidade que ela tinha de sucesso na vingança. Por outro lado, Ted não fazia ideia do plano, obviamente, mas via ali uma oportunidade de também fugir de seus problemas: também uma possível separação conjugal.
Estava armada a confusão. Somado a este interesse da dona do clube em destruir o legado de seu ex-marido (que, aliás, era um babaca mesmo), Ted Lasso não fazia ideia de como funcionava o futebol. Não tem ideia nem mesmo das regras básicas do esporte, mas, ao lado seu auxiliar e amigo “Coach” Beard (Brendan Hunt), acredita que poderia assumir a função.
É claro que tinha tudo para dar errado. Os jogadores do clube não aceitam bem a mudança, com conflitos internos aumentando os problemas do treinador; a imprensa inglesa pegando no pé de Ted e de Rebecca (e esta está bem próxima da realidade, pois que conhece o futebol sabe que os tabloides ingleses são complicados de lidar); a torcida que cobra resultados…
Mas então entra especialidade de Ted Lasso, e a forma como ele conquista não só a todos dentro do show, mas também a nós, a audiência. A sua positividade.
A primeira coisa que o novo técnico faz é implementar a filosofia do “Acredite!”, e de forma literal, pois afixa um cartaz no vestiário e o apresenta aos seus comandados com frequência. Aos poucos, o jeito Lasso de ser vai ganhando contornos e a gente se vê torcendo para ele a todo custo, querendo ver o AFC Richmond tendo sucesso.
Lasso é um cara positivo, que não acredita no fracasso pessoal, e ajuda a todo a atingirem o seu potencial. É o típico técnico paizão, que abraça a todos e está sempre sorrindo. Apesar de parecer uma forma leviana de tocar a vida, Lasso demonstra maturidade ao lidar com os problemas que surgem. Deixa que as pessoas tomem suas próprias decisões, que descubram as suas limitações e saiba ultrapassá-las.
Lasso e Rebecca acabam se tornando amigos, mesmo após esta lhe dizer o motivo e sua contratação. O AFC Richmond não tem a melhor das temporadas, e apesar disso todos comemoram pois, mais do que resultados, o ambiente se tornou familiar e agradável. Esta é a mensagem que Ted Lasso transmite.
A COMPLEXIDADE
Se na primeira temporada somos apresentados a este grupo de pessoas, e com foco nos conflitos vividos principalmente por Lasso e Rebecca (além de tramas secundárias envolvendo alguns dos atletas), na segunda temporada a série ganha contornos mais dramáticos e mais pesados.
Ted se mantém sempre positivo, sempre brincando e sorrindo. Mas descobrimos em como isso serve de casca para conflitos internos. Ted Lasso é como a gente, com o sofrimento real que vivenciamos todos os dias. As ansiedades, as perdas durante a vida, a dificuldade de lidar com o mundo real e se fechar em si mesmo.
Uma nova personagem, inserida na segunda temporada, a terapeuta Sharon (Sarah Niles), que consegue, aos poucos, furar a casta de Lasso e expor os conflitos vividos por esse, inclusive com um segredo que nos deixa ainda mais ao lado do técnico.
E O FUTEBOL?
Sim, existe muito futebol na série. Muitas referências aos clubes ingleses e a alguns jogadores e membros da imprensa inglesa. Na segunda temporada temos a participação deum ex-jogador que foi ídolo em um grande clube e hoje atua como comentarista. Aliás, a sua participação é importante no episódio mais psicodélico da série, que envolve o “Coach” Beard.
Há alteração nos clubes. O Manchester City, por exemplo, que tem destaque na trama, não tem seus jogadores reais participando, o que é natural, tanto por questão de imagem quanto de trabalho. As partidas de futebol durante a série também são bastante fantasiosas, mas isso não estraga em nada a experiência de assistir a série. Existe futebol sim, mas este é somente um pano de fundo para a história.
E OS OUTROS PERSONAGENS?
Por se tratar de um time de futebol, é natural que vários personagens estejam na série. Mas os destaques, além dos já citados anteriormente, ficam com o carismático diretor de futebol, logística – ou seja lá a função de – Higgins (Jeremy Swift); o humilde Nate roupeiro (Nick Mohammed), que cresce na trama e toma contornos inesperados na segunda temporada; a estrela do time Jamie Tartt (Phil Dunster) e sua arrogância; o experiente, bruto, carrancudo e simpático capitão Roy Kent (Brett Goldstein); o inocente, mas resoltudo Sam Obisanya (Toheeb Jimoh); o implacável jornalista Trent Crimm, “The Independent” (James Lance); e a simpática e querida Keeley Jones (vivida pela bela Juno Temple, um dos rostos conhecidos do elenco).
A relação deste grupo é bastante agradável, e muitas vezes nos vemos envolvidos na naturalidade de suas relações. As atuações são bastante convincentes, principalmente quando avançam os episódios. Um dos meus favoritos é o Goldstein, que apesar do clichê do “bruto que também ama”, tem lima relação adorável com sua sobrinha.
Há ainda o núcleo dos torcedores no bar, que são três, mais a dona do estabelecimento, a simpática Mae (Annette Badland). Apensar de tentarem captar o ambiente de um pub inglês, nem sempre este é alcançado.
VEREDITO
Apesar de ser uma produção prioritariamente americana, a série não deixa de ter seu toque do sarcástico e conhecido humor inglês, com vários trocadilhos sexuais e ácidos. Uma série de humor com drama e que tem o futebol como plano de fundo.
Em seu ano de estreia teve 20 indicações ao Emmy, a série estreante com o maior número de indicações na história da maior remissão da TV americana (a maioria nas categorias de atuação). Levou sete prêmios, com destaque para Melhor Série de Comédia, Melhor para Jason Sudeikis, Melhor Atriz e Ator Coadjuvantes para Hannah Waddingham e Brett Goldstein.
No IMBd tem a nota de 8,8 e no Rotten Tomattoes está com 95% (críticos) e 88% (audiência). É uma série que diverte e emociona na medida certa. Ted Lasso é, sem dúvida, um dos melhores shows da atualidade.